quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Deviamos ter passado a vida a escrever em
muros todas as frases graves que nos ocorrem
quando estamos sem fazer nada
e assim sempre que estivéssemos
sem fazer nada estávamos a escrever em muros

eu gosto quando estamos sem fazer nada
e as nossas cabeças estão vazias

(damos a mão
um beijo de olhos fechados
e não há frases graves que tremam as mãos
que temam a sociologia
que me afastem de ti em fracções de segundo
e me digam para viajar sozinha)

tu estás sempre lá
eu às vezes não estou
quando não estou tento tomar banho
e espero que a ausência passe

mas nem tudo é mau em ti
gosto das tuas mãos
e não consigo respirar quando não estou ao pé delas.

1 comentário:

madmax disse...

Não sei porque razão este poema permanece virgem de comentários...
Não vou escrever à vossa maneira nem tão pouco achar que o aqui está presente é um traço de surrealismo ou de dadaísmo. Acho que esses ismos são uma forma de mandar tudo e todos pó caralho.

Contudo, vou apenas pensar que este poema é de alguém que tão pura e simplesmente quis escrever um poema.

Muros, em vez de escrever em muros porque não deitá-los abaixo, à excepção talvez de o Berlin, mas pensemos apenas que dependes dos muros para escrever estados de alma.

Não podes escrever nas pessoas porque as pessoas não são muros, em vez disso, pensa se ao escreveres em pessoas o tens feito efectivamente de modo a que, não derrubando as ditas-cujas, lhes deixaste qualquer coisa no íntimo.

Se assim o fizeste então parabéns, mas se fores apenas mais uma pessoa que em vez de escrever em pessoas decide escrever em muros, foste sucedida na tarefa (na de escreveres em muros.

Sem fazer nada... nunca estamos sem fazer nada, é só quando não fazemos nada que estamos prontos a amar, talvez seja por isso que todos estamos tão ocupados neste momento, a tentar parecer bem ao mundo...

Nunca estive sem fazer nada. Mas podes achar que, segundo esta perspectiva, não fazer nada é fazer qualquer coisa.

Cabeças Vazias... sim, pode ser.

contudo abrir parêntese para dizer que dás um beijo ou não a alguém parece-me que o que deves começar por fazer é por o resto do poema dentro dos parênteses, e com ele (o resto do poema, entenda-se) o resto do mundo, só assim estarás pronta a amar verdadeiramente sem que com isso estejas sempre magoada ou incompleta com alguma coisa, as gajas e os gajos fodidos são os que põem o mundo entre parênteses, tudo o resto são parasitas de existências.

Não te iludas em relação à presença permanente e incógnita mas se o dizes, quem sou eu para desconfiar.

Mãos, as mãos têm muito que se lhe diga, temos isso em comum, costumo apaixonar-me por uma mulher pelas mãos.

Não tenho acompanhado o resto da tua poesia, nem vou dizer que foi uma boa tentativa, porque se foi sentido efectivamente então não é apenas o melhor dos teus poemas mas o melhor de todos os poemas alguma vez escrito.

Continuo a não queres fazer parte desse clube da poesia, talvez porque me cansei de gesticular freneticamente sem efeitos visíveis.

madmax