sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A beleza, o borderline e o sublime

Ver-te assim tantos dias, sem luz,
A casa a crescer com as pilhas de livros
Que espalhas em grandes montes há procura de uma razão
Que alguém tenha escrito para não te sentires tão triste
Eu não posso dizer que alguma vez possa ter realmente compreendido
O vazio e a dor que tento decifrar nos teus olhos
Porque me assusto e tenho medo de ir contigo também
Os teus olhos assustam
A tristeza é inegável
Antes era pior
Antes dos livros
O pior era quando as peles da tua cara descaíam para dar lugar aos olhos absurdos
Agora não acontece tanto
Deitavas-te com as peles descaídas dentro de 2 metros quadrados
Andavas, berravas, choravas
Porque todo o demais espaço era para ti um sofrimento maior
Não sei como nunca te mataste
Já questionei isso muitas vezes, em quê? 10 anos,  juntos amor!
E tudo acerca de ti
e não é possível ser de outra maneira
Também já me perguntei como nunca deixei de te amar
O amor parece mesmo ser assim, é amor, fica
Há quem tenha a sorte de o encontrar.
Dava tudo para que o Paraíso fosse a repetição infinita
Do amor que fizemos, das praias que molhámos com os nossos suores
Do teu sorriso quando te sentes amada por mim e por tudo o que nos rodeia
E como podes ser tão feliz nuns dias
E depois transformares-te numa deusa grega vítima de uma tragédia tão severa que
não há
Consolo que te sirva
E é essa a palavra, consolo mulher.
Onde e como te poderei alguma vez arranjar consolo
Tu és forte
Se não fosses eu nunca teria aguentado tanto
Volto a dizer que não sei como nunca te mataste
Depois recuperas doí menos e assim amas-me mais
Eu fico mais feliz
Na verdade ao escrever-te este poema, esta tentativa de carta solta
Apercebo-me que compreendo melhor todos os teus processos do que aquilo que pensava.
Sei quem és. Parece que vens de outra planeta, pela beleza e pelos jeito de ser
pela sensibilidade extrema.
Pelos olhos amendoados e pestanas longas,
Quando estás com as estantes arrumadas e cantas pela casa
O meu mundo é ternura
Os teus olhos são profundos e vejo-me a mim neles quando te aproximas
para me dares beijos no nariz.
Sem ser nesses tempos
Os teus olhos assustam
Transtorno de personalidade
Queria deixar escrito antes de te deixar
Que te deixo porque me venceu o cansaço de não seres bela todos os dias
E muitas das vezes em dias que precisava mesmo de ti
Não posso amar-te mais, não é útil para mim
A política, tu sabes.
Mas quero dizer a toda a gente  que me despeço deste mundo com uma certeza. Eu é que não sou tão forte como tu e não aguentei, tu sim, aguentaste-te até hoje, todos os dias.
E eu sei que continuarás a aguentar mesmo sem mim, meu amor.
Foram 10 anos de cumplicidade, terror e beleza sublime.

O que eu pretendo, é que toda a gente que leia isto um dia, saiba que eu não fui capaz, mas é possível viver com um borderline.

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